sábado, 13 de junho de 2020

Dê suas mãos às comunidades!


Há sensivelmente trinta quilômetros da cidade ferro-portuária do Lobito, na direcção Norte, entre montanhas, situa-se a localidade da Hanha do Norte. Pertencente a comuna sede, a Hanha do Norte é administrativamente uma porção da coordenação da Zona 10, cuja capital é a localidade do Kulañu(Kulangu). Porém, seguindo o curso da estrada asfaltada que liga a Hanha e o Kulañu, o percurso pode durar aproximadamente sessenta quilômetros. Na verdade há uma outra via, talvez um corta mato, que dista quase quinze quilômetros da cede zonal, mas que não possibilita o trânsito de viaturas, sejam elas ligeiras ou pesadas.

Com uma população estimada em 4 mil e 154 habitantes,  a Hanha apenas pode lamentar-se do seu potencial turístico, para mencionar, a famosa Praia da Jomba, bem juntinha a antiga fábrica da Água da Jomba comercializada no centro da cidade do Lobito. Esta praia com a sua água, é das mais límpidas da província de Benguela. Apesar de o acesso ser hoje um verdadeiro teste para as viaturas, por isso, orienta-se viaturas com tracção às quatro rodas, o zigue zague da descida desde o cume até ao balneário é convidativo, entretanto mais seria se asfaltada a estrada estivesse, assim como era no tempo colonial. 
  
Na Hanhá, a agricultura, a pesca e criação de gado configuram a lista das actividades principais dos moradores. Por exemplo, o rio Kulañu que serpenteia a aldeia sede, dá vida às variadíssimas culturas próprias daquela terra. E então o gesso envolto às montanhas traz imagens em ação de uma Hanha cobiçada por visionários que com a sua responsabilidade social investiriam numa escola do ensino médio técnico e profissional que formasse exploradores minerais. E o gesso seria sim, o ouro daquela população.

Ao visitar a Hanha dois agentes de socialização chamam a atenção, a Escola BG nº 2019 e a Associação Comunitária Tuyula Lomunga. Esta última, fundada em 2016 é produto da responsabilidade social da empresa Odebrecht a quando da construção da Refinaria do Lobito. Contudo, a associação desempenha um papel preponderante na economia da Hanha, pois, para além de gerir uma moageira, a associação produz artesanalmente um sabão de excelente qualidade.

Portanto, a Hanha não deixa de fazer parte de um conjunto de potenciais gigantes economicamente adormecidos nessa Benguela de Angola, visto que a sua estrada reclama por reparações, a corrente eléctrica continua a ser coisa do outro mundo e a água canalizada para o consumo doméstico ainda é miragem.

Visite a Hanha do Norte!

“Eka Lietu Vo Mbala”.        




Texto: Lofa Kakumba
Foto: Samuel Sambaly
Colaboração: Joaquim Kulembe
                       Martinho Satchaka

sexta-feira, 12 de junho de 2020

O jovem de manhã está na criança de hoje


O dia a dia de todos nós ganhou uma nova imagem, crianças deambulando de um lado ao outro não apenas nas ruas do centro da cidade, mas também nas ruelas dos bairros da periferia da cidade. O número é cada vez crescente.

Procurando o quê? Latas, arames de metal, retalhos de tecidos ou caixas de papelão para exercitarem a sua inteligência artística, como foi durante a infância de muitos entre nós?

Apesar das lojas do povo nos dias do partido único, os brinquedos não eram para todos do povo, ou seja, de tão escassos, apenas serviam para a decoração das salas de estar. Mas, no entanto, a natureza da brincadeira na criança não esperava pelos brinquedos das lojas do povo, aliás, os mesmo também somente chegavam ás vésperas do natal. E parecendo que não, quanto mais distante do mar se estava, mais lunático era o sonho do brinquedo industrializado.

A criatividade levava as crianças na procura, onde quer que fosse, de vários objectos para serem transformados em brinquedos de carros de latas e de fios, bonecas de panos, casas de barro, arcos de jantes e tanto outros. Era sim, o motivo da criançada nas ruas.

Diferente do ontem do partido único, hoje, há mais crianças nas ruas, até porque a população angolana cresceu, mas não é a procura de meios para criarem brinquedos. As crianças estão nas ruas a venderem tomate, cebola, pimenta, feijão e muito mais. Elas cruzam bairros, escalam montanhas, esquivam carros e enfrentam assaltantes. Quantos quilômetros elas percorrem ao dia?

Como cresce o número de crianças nesse trabalho que explora a infância das mesmas, reflectir sobre a situação econômica e financeira dos lares angolanos deve ser o exercício constante entre os governantes e os súbditos do governo.

Visualize a seguinte realidade angolana: os acidentes rodoviários são a segunda maior causa das mortes. Pelo que se sabe, maior parte da população angolana é jovem, naturalmente uma maioria economicamente activa e que é utente das estradas, por isso, não é difícil calcular que um grande número de jovens está a morrer nas estradas de Angola, provavelmente a procura de garantir o pão de cada dia. Portanto, talvez haja muita criança no trabalho de venda ambulante que viva sem seu pai ou sua mãe, senão mesmo sem os dois progenitores.

O trabalho infantil está a tomar proporções incontornáveis aos olhos de muita gente boa!   



   


Texto: Lofa Kakumba 
 Foto: Dino Calei

terça-feira, 2 de junho de 2020

Juventude - a manutenção da soberania


A soberania tem sido a bandeira em defesa por qualquer Estado nesse planeta de muitas terras e muitos céus, pois a submissão apesar de necessária resume-se no facto de, na maioria de vezes: "a lei ser como a teia de aranha, que prende os insectos mais fracos e os mais fortes conseguem rompe-la". Portanto a disputa dos poderosos com os seus poderes, sejam financeiros, humanos, naturais, acadêmicos, históricos e tantos outros, acabam ditando o poderio de um Estado.

Como o Estado é hipoteticamente a conjugação incondicional de elementos como, o povo, o território e o poder político, também não seria irracional pensar que a manutenção do estado e a sua soberania dependesse dos mesmos elementos.

A racionalização dos seus recursos e a capacidade de prever e satisfazer necessidades dos seus cidadãos levou alguns E stados à condição de poderosos. Se tal condição é temporária... Depende da luta de cada estado, entretanto, assiste-se um cenário mundial de estados menos poderosos que alguns.
Estados menos poderosos significam menos soberanos? A abordagem sobre a soberania dos estados pode gerar grandes discussões baseadas em vários pontos de vistas, mas o subaproveitamento de um dos elementos da trindade estatal ou estadual poderia condicionar a soberania de um estado. Por exemplo, a pobreza no seio do povo fragiliza o Estado.

Como acreditar na soberania de um estado cujo povo não tem o que comer? Não é por acaso que entre irmãos, o mais velho vendeu simbolicamente ao mais novo a primogenitura ao preço de uma refeição, reza a bíblia.

Portanto existem aspectos que podem vulnerabilizar a soberania do Estado. Entrementes, qualquer fraqueza no desempenho dos elementos do Estado, quer dizer, se o território não é explorado racionalmente, se a vigorosidade da juventude não é nem tida muito menos achada e se a experiência dos experientes não é relevada aos novos desafios do saber fazer, estar e ser, a dimensão política do homem ou da mulher é frágil. E conseqüentemente quebra-se o sentido de complementaridade da trindade estatal.

Quando o Estado não rentabiliza a juventude, o mesmo torna-se inconseqüente, agudiza a sua condição de exclusividade na história dos seus súbditos relativamente ao tempo e espaço, pois a virilidade também é um recurso não renovável. Veja que quem pode hoje estraçalhar com forças rochas, não o poderá fazer com a mesma vigorosidade depois de cinco décadas de vida. Também é facto que quem tem recursos encontrará necessariamente uma forma e um lugar para usar o que tem em sua posse. Essa realidade é bem válida para a juventude, pois se ela não for bem aproveitada, gastará o que demais precioso tem com escórias.

Contudo, uma juventude não pode por si mesma deixar de pensar e de agir, porque a juventude é e será sempre o reflexo dos adultos do seu tempo.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Projecto "Eka Lietu Vo Mbala"

Participe da implementação do primeiro Banco Alimentar em Benguela!
Estamos localizados no
Lobito, bairro Santa Cruz,
na rua do Colégio Público doI ciclo 
Rei Mandume.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

AINDA RESTAM MANHÃS!


Manhãs que nos levantarão desse tédio, e nos reabrirão o portão da vida, sem as luvas do medo nas mãos
Manhãs que nos devolverão a enxada do labor, e que nos enxugarão do rosto o suor, sem a paranóia da água com sabão
Ainda restam manhãs que nos trarão a quentura daquele abraço, algemado na estúpida ânsia do tal de confinamento
Restam aquelas manhãs,
molhadinhas no chuvisco bucal de beijos que já se fartaram de tanto jejuar
Ainda restam passeios de mãos dadas à beira mar, descalçados na morna conexão entre o cintilar da areia e o piscar do sol
Restam chãos riscados no compasso gingar de corpos bailarinos, arrepiados na celebração do funeral desse vírus papão
Ainda restam lembranças por partilhar, lágrimas amargas por enxugar, feridas abertas por cicatrizar, e peitos apertados por suspirar!

Sim, ainda restam manhãs!


Por: eUzInHo
(facebook: Edmundo Francisco Francisco)

Kota Zé e a Vida


Enquanto distribuíamos kits alimentares providenciados pela administração da Catumbela, nas periferias fronteiriças entre o Lobito e a Catumbela, encontramos o senhor Zé Maria que vendia tudo do nada que tinha. Obviamente nos sensibilizou e não resistimos à necessidade de deixar com ele um kit, mesmo não fazendo parte do cadastro das famílias vulneráveis.

Podemos concordar que fé e esperança podem manter viva a alma, mas resistir à fome é para além de mental, um exercício físico. Daí que contam os dias para um ser vivo manter-se sem alguma alimentação, aliás, até porque para se alimentar precisa-se engenhar estratégias de aquisição dos alimentos. Alguns o chamam emprego, outros fonte de receitas ou negócios, mas na verdade todo mundo trabalha, pelo menos.


A vontade de trabalhar, que nos parece natural ao ser vivo, impele-nos a labuta, não é à toa que nos mandaram ter com a Formiga para algumas aulas de organização do trabalho, e também sentenciados com as seguintes palavras: “do suor do teu rosto comerás pão...”

Talvez seja essa sentença que desestimula Zé Maria com as suas mais de sete dezenas de anos vividas, por enquanto, a não enveredar em caminhos menos dígnos para encontrar o que comer, sujeitando-se à venda de tudo do nada que tem.

Imagine em pleno século XXI alguém produzindo adobes para vendê-los em zonas urbanizadas. Ele está trabalhar, mas em algo que não tem clientes nas zonas urbanas há mais de duas décadas. É um negócio do outro século para uma certa elite. Sim, o kota Zé Maria vende artigos do século passado e desconhecidos pela maioria dos consumidores impulsivos dos dias de hoje. Entanto fazia parte dos produtos à vendas na bancada do kota Zé cassetes vídeo que funcionam apenas num deck ou leitor VHS, hoje, substituídas por discos compactos e seus respectivos leitores VCD, DVD, sem nos esquecermos dos vários periféricos digitais para vídeos e áudios que a informática proporciona. Quem mais compraria uma cassete vídeo? Entenda-se aqui que naquele momento ele vendia tudo do nada que tinha, pois a esperança e a fé se encarregariam do resto. O resto pode ser a comida para o seu jantar logo mais.
Angolanos e angolanas na condição do kota Zé há em números grandes e espalhados por essa Angola. Estamos entre os 12 e 13 milhões de angolanos vivendo uma pobreza extrema.


O projecto "Eka lietu vo mbala" da AJS e parceiros já cadastrou o kota Zé Maria para constar entre as quinhentas famílias que se beneficiarão da assistência social e humanitária, residentes nos bairros periféricos do Lobito e da Catumbela. E você pode ser o financiador de uma dessas famílias através da sua doação de bens ao banco alimentar. Conheça mais do projecto! 

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Campanha dar Vida às comuinidades



AJS e parceiros levam a cabo uma campanha para a criação de um banco alimentar para apoiar com bens alimentares às famílias vulneráveis nas periferias das cidades do Lobito e da Catumbela.

A campanha está enquadrada no projecto de assistência humanitária "EKA LIETU VO MBALA", que pretende apoiar cerca de 500 famílias em situação de extrema vulnerabilidade social. Comprometa-se com o banco alimentar.

Vamos ajudar quem mais precisa, contamos com você!..

Dê suas mãos às comunidades!

Há sensivelmente trinta quilômetros da cidade ferro-portuária do Lobito, na direcção Norte, entre montanhas, situa-se a localidade da Ha...