sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

«Quando as pessoas falam, a Organização cresce»

Breves entrevistas com membros da AJS à margem da Assembleia, no passado dia 30/12/07. Perguntas directas, respostas sem tabus nem rodeios.
(AV-O): Ao participar desta Assembleia, antecedida de um considerável intervalo, já que a última aconteceu em 2005, que impressão tem? Houve abertura para a prestação de contas?
BD: Dizer que a Assembleia não deu abertura para uma conversa franca e aberta estaria a mentir, porque ali falou-se de tudo um pouco. E, pese embora, termos deixado alguns pontos para o próximo encontro, acredito que foi frutífero o debatido.

AV-O: Teve de se deslocar à província do Huambo por questões de formação, o que o obriga a estar um pouco distante da organização e das suas actividades. Como se sentiu ao reencontrar os colegas?
BD: Sinceramente a emoção é tanta, porque há muito tempo que não participo de um encontro como este, com os meus colegas e amigos associados nesta nossa organização. E sempre que lá estivesse, sentia sempre a saudade deste reencontro, tanto mais que tenho um convite para comemorar o reveillon com os meus amigos no Bocoio, e tive de sair de lá directamente para esta Assembleia.

AV-O: O que espera para 2008?
BD: Espero que tudo corra bem para as pessoas que dão o seu desempenho por “amor à camisola”, não só os membros como também os activistas, como nos é característico.
***************************** João Fernando “John”

AV-O: Acha que valeu a pena a realização da Assembleia?
“John”: Sim, valeu, visto que abordamos aspectos que têm a ver com a Organização, aspectos esses que eu posso admitir que desconhecia. Em suma, foi bom.

AV-O: Quais foram os aspectos que julga necessitarem maior atenção, por exemplo, já no próximo ano?
“John”: Bem, é tentar rever o regulamento interno em si, visto que é um dos aspectos que ficaram reagendados para o próximo encontro e olhar mais por dentro a Organização.

AV-O: Como se sentiu no reencontro com os membros?
John”: Senti-me muito bem. De facto, foi um grande encontro.

AV-O: O que espera para 2008?
“John”:
Espero mais trabalho, que apareçam mais doadores, mais projectos, que a AJS cresça ainda mais.

AV-O: Em 1999 foi convidado a se juntar à constituição da AJS. Se lhe convidassem hoje a integrar outra Associação, qual seria a resposta?
“John”: (Risos) Não sei. Sinceramente, não sei…
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César Menha (CM), membro, responsável pela Administração e gestão dos fundos da AJS AV-O: Que avaliação faz desta Assembleia?
CM: Faço um balanço positivo e para mim valeu porque daí poderão sair outras ferramentas para os próximos encontros, onde sairão alicerces para a nova AJS e para o progresso.

AV-O: Para o período 2007 quais foram as questões positivas e que preocupações gostaria de ver resolvidas nos próximos anos?
CM:
Questões positivas foram, por exemplo, o contacto com as comunidades, o trabalho com as escolas e parceiros. Para o próximo ano, gostaria de não pararmos no contacto com os parceiros, as escolas, com a comunidade e mobilizar os membros para a sua participação nas acções da Organização.

AV-O: Se lhe voltassem a convidar hoje para integrar outra Associação a nascer, qual seria a sua resposta?
CM: (Pausa) Acho que podia, por um lado, analisar que fim teria essa Organização e, por outro, aceitar. Porque qualquer Organização, desde que seja para o bem da sociedade, é sempre bem-vinda.

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Na Assembleia de 2005, o membro Edmundo Francisco (EF) foi elevado à responsabilidade de Coordenador Executivo da AJS. AV-O: Como se tem sentido de lá para cá?
EF: Bem, por causa da colaboração que existe entre os membros e também são pessoas amigas, mas também muito apertado por causa da minha agenda pessoal. Mas tem sido possível levar a Organização, digamos, a bom porto.

AV-O: O que dizem os estatutos sobre a periodicidade dos encontros?
EF: Deviam acontecer pelo menos uma vez por ano, ordinariamente. E, extraordinariamente, sempre que necessário. (O interregno registado) é uma fraqueza interna de planificação e de organização de condições, nossa. Nós assumimos.

AV-O: Qual é o estado de saúde da Organização?
EF:
Está a crescer e muito bem. Por exemplo, os dois últimos anos foram de muitas acções, de projectos que tiveram um impacto público muito grande, reforçaram a capacidade de intervenção, principalmente nas áreas de comunicação social, educação para saúde preventiva e cidadania. Também fizemos muitas mudanças internas, em termos de administração e gestão interna, bem como na articulação do pessoal recrutado, apesar de os outros membros terem pouco tempo disponível na sua agenda pessoal.

AV-O: A Assembleia correspondeu à expectativa?
EF: Maioritariamente, sim. Inicialmente fizemos uma agenda muito ambiciosa, com muitos pontos e tivemos que priorizar. Ficamos com a apresentação das contas, quer das actividades desenvolvidas desde Setembro de 2005 até finais de 2007, quanto ao dinheiro correspondente aos fundos livres e aos projectos financiados.

AV-O: Qual é o ambiente lá dentro?
EF: Eu sinto que, depois de quase três anos, as pessoas continuam a ter o mesmo espírito de abertura e participação, frontalidade e amizade, seriedade com o trabalho. Quando as pessoas falam, a Organização cresce. Estamos a falar de um grupo, de um movimento de pessoas que envolve interesses principalmente dos cidadãos.

«A AJS está a progredir», conclui a Assembleia-geral de membros no balanço bianual 2005/07

Os membros regozijaram-se com o notório crescimento da Organização, traduzido pela identificação e implementação harmoniosa de três projectos, “Palmas da Paz”, “Viver Contra a Sida”, desenvolvidos nos três municípios do litoral da província de Benguela, e o Projecto “Pesquisa sobre os factores que influenciam a qualidade do ensino primário”, realizado no município do Caimbambo.

No passado dia 30/12, realizou-se a Assembleia-geral de membros da Associação Juvenil para a Solidariedade (AJS), que teve lugar na sua sede social, ao bairro da Santa-cruz, cidade do Lobito. Participaram dez dos 15 membros que a compõem, e apesar da ansiedade já que a última assembleia aconteceu em finais de 2005, o ambiente foi, como sempre, marcado pela cordialidade e metodologia informal. Entre o essencial da agenda, constou a análise dos relatórios narrativo e financeiro do período 2005/7, do inventário do património da Organização, e a proposta de inclusão de novos membros, e, ainda, a constituição dos Órgãos Sociais.


A AJS, que já se tornou em “obra da sociedade”, é uma iniciativa voluntária e apartidária da responsabilidade de um punhado de jovens humildes e com vontade de aprender, divididos em três galhos: A Coordenação Executiva, que frequenta com regularidade a sua sede social, a Assembleia-geral, formada por membros com pouca disponibilidade de tempo, e, ainda, por voluntários, jovens que participam de actividades e frequentam a casa sem remuneração nem vínculo como membro.


Os membros regozijaram-se com o notório crescimento da organização, traduzido pela identificação e implementação harmoniosa de três projectos contabilizados em cerca de USD 200 mil, nomeadamente, “Palmas da Paz”, “Viver Contra a Sida”, desenvolvidos nos três municípios do litoral da província de Benguela, e o Projecto “Pesquisa para o ensino primário em Benguela”, este último implementado em parceria com a ONG angolana Okutiuka-Apav, no município do Caimbambo. Mereceu igual atenção uma lista considerável de eventos e programas, sob iniciativa de parceiros governamentais e da sociedade civil, em que a AJS esteve envolvida, tais como feiras, conferências, encontros de coordenação e planificação conjunta, para só citar alguns. Um outro símbolo de crescimento registado reside no facto de instituições nacionais e internacionais recrutarem quadros da AJS para prestação de serviços como seminários, pesquisas e reforço de capacidades.


Os membros destacaram, entre os principais motivos de satisfação, o Boletim informativo mensal “A Voz do Olho” e o programa radiofónico “Viver para Vencer”, cuja aceitação por parte da sociedade é cada vez maior, revelando-se os mil exemplares, no caso do Boletim, insuficientes para satisfazer a demanda. Entretanto, erros ortográficos e, nalguns casos até de sentido, mereceram a reflexão da Assembleia. Da Equipa editora, também constituída por membros da AJS, ficou o compromisso de se prestar maior atenção, embora tal se deva em grande medida à pressão constante causada pelas sucessivas avarias da máquina reprodutora e a necessidade de se contornarem eventuais atrasos.


Lamentou-se, contudo, a exiguidade do tempo, que impediu a cobertura integral da agenda. Por outro lado, dificuldades vividas pelo secretariado condicionaram a disponibilização atempada dos documentos necessários para a Assembleia, não tendo sido possível em certos aspectos uma discussão mais profunda. Face a isso, os membros recomendaram a realização de uma assembleia-geral extraordinária ainda no próximo mês de Janeiro.
Como já o escrevemos numa das edições, fundar uma associação ou Organização Não Governamental, como queiram, é fácil; basta para isso guiar-se na Lei das Associações vigente em Angola. Agora, manter a ascensão de uma associação juvenil ao cabo de oitos anos a fio, no contexto de desenvolvimento, isso sim é uma obra. Ou então que nos desminta a história, que viu falecer inúmeras associações surgidas como parceiras do Programa Alimentar Mundial (PAM) na fase de emergência.


Desde a sua fundação, em 1999, a AJS vê nas parcerias a alma do seu crescimento, quer a dar, quer a receber. Em termos de projectos financiados, contabilizam-se cinco, estando entre os doadores a OXfam-GB, a Usaid, a Embaixada Americana, o Programa das nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e a Education Action International (EAI) com sede na Grã-Bretanha. Não estão aqui descritas pequenas acções enquadradas em redes e consórcios de que a AJS tem sido co-implementadora.


Independentemente dos financiamentos directos e indirectos, é prática elaborar programas com os parcos recursos próprios, como foi o caso do “Viver Contra a Sida”, delineado em 2001, quando participávamos de excursões de jovens para palestrar e distribuir material informativo sobre Infecções de Transmissão Sexual e não só. O Boletim “A Voz do Olho” é outra iniciativa de pessoas próximas da AJS, o que reforça a convicção de que os financiamentos e os apoios são bons, mas não paramos de pensar quando não existem.

«Língua Portuguesa é património dos Portugueses e de mais ninguém»?

Por: Gociante Patissa (patissagociante@yahoo.com)
www.angodebates.blogspot.com

O “maldito” acordo de unificação do português, entenda-se entre as variantes brasileira e portuguesa, tem sido alvo de debates, suscitando tanto críticas recheadas de razão, como alguns dos mais infelizes argumentos. O canal televisivo português “Sic”, no espaço “Opinião Pública”, a 21/12, promoveu um fórum com a presença em estúdio de uma ilustre professora de Língua Portuguesa, contando com a participação de cidadãos de Portugal, Angola e Brasil, entre professores, tradutores e não só. Ficamos, nós os outros, a saber que neste acordo só o Brasil, Portugal e Cabo-Verde foram tidos e achados, «o resto virá por arrasto».

Conservadora e efusiva nos argumentos, a pedagoga vê no “Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa” uma questão de “lobby” político do Brasil, arrogando-se do simples facto de ter uma população maior (o Brasil tem oficialmente 120 milhões de habitantes e Portugal 11 milhões). Até porque a língua não é estática, o que pressupõe dizer que os brasileiros, que impõem a unificação, estão sujeitos à dinâmica evolutiva da língua e o neologismo continuará a ocorrer. Ou seja, quantos acordos de unificação mais serão necessários?


«É uma questão de facilitismo», considerou a professora que já garantiu não aderir a tal unificação, evocando ainda que a língua portuguesa tem uma origem, o latim, e uma história a respeitar. Ou seja, que o “h” mudo, o “c” (de acção) embora não se pronunciem, têm a utilidade de, não só evitar eventuais confusões com palavras semelhantes, como também ajudarem na entoação. Pelo que, os apologistas deste acordo para o qual nenhum exercício de auscultação pública foi experimentado, «estão a profanar as origens da língua portuguesa», disse.


«Portugal tem figuras da sua história cujo valor é reconhecido pelo mundo, como é o caso de Camões e as suas obras literárias. E, de repente, tudo isso não conta?», questionou. E com elevado pesar, viu-se a docente trazer cá fora os mais íntimos conceitos de património linguístico ao afirmar que «a língua portuguesa é património dos portugueses e de mais ninguém!». Será? Bom, a professora lá terá “bagagem” suficiente para tão arriscada asserção, embora nos pareça egoísta, considerando que, ao longo da história, Portugal e a língua portuguesa cruzaram a vida de muita gente, que se viu forçada a renunciar alguns dos aspectos mais sagrados da sua cultura, não tendo, hoje, língua própria, ou, se a tem, com pouco poder de expressão.


As participações ao telefone sustentaram, na sua maioria, a tese da professora convidada, defendendo que, «se os brasileiros quiserem falar "fato", por exemplo, em vez de "facto", que o façam, já que o acordo privilegia a pronúncia. Agora, forçar os outros, isso é que não!». E quase todos entendiam o acordo como uma vitória brasileira enquanto potência relativamente superior, perante (um) Portugal frágil, com o medo político de perder espaço. Basta ver que a variante brasileira cede apenas 0,5%, enquanto a variante padrão 1,6%. Tanta é a estranheza do acordo que o Brasil já disse que vai avançar com a implementação das propostas, quer Portugal concorde quer não, realçaram ainda os contestatários. «É um tipo de acordo que uma Inglaterra, por exemplo, jamais aceitaria, com todo interesse e respeito que tenha pelos Estados Unidos da América».

Do lado contra, um cidadão brasileiro realçou que o acordo vem acabar com as dificuldades de compreensão enfrentadas por pessoas que falam a mesma língua, reforçando aproximação. A opinião mais radical foi manifestada por um cidadão português que classificou a professora como fazendo parte de uma elite que vê a história como algo estático, que fica escrito em mármore, repugnando termos excessivos como «profanação». A reacção da professora não se fez esperar. Considerou os argumentos como sendo «de baixeza e usados», e deixou bem claro que não vai adoptar a unificação «para não ensinar erros aos alunos!!!».


Em 1911 dá-se a primeira tentativa de unificação ortográfica dos países lusófonos, que fracassou. O primeiro acordo ortográfico entre Brasil e Portugal data de 1931 e não resultou. Em 1945 houve, em Lisboa, um outro acordo, que também não efectivou a unificação, pois foi adoptado apenas em Portugal. O sistema ortográfico vigente no Brasil é de 1943.

A Cocaina - aspectos históricos e culturais (Foi ela quem acabou com a cantora Brenda Fassie)

Quando há dias o Jornal de Angola anunciava a detenção de uma cidadã cabo-verdiana, no aeroporto da capital do seu país, em posse de “apenas” três quilogramas de cocaína, mais parecia uma questão de “ferver com pouca água”, para quem acompanha vários escândalos que envolvem toneladas movimentadas pela “indústria” do narcotráfico no mundo.

Mas o problema é mais sério do que pode parecer, dadas as suas consequências, primeiro, para a vida do indivíduo e, depois, para a sociedade.

A África do sul e o continente em geral perderam a estrela do Afropop, Brenda Fassie, com apenas 39 anos, a número 17 da lista de cem melhores músicos sul-africanos, que faleceu em Maio de 2004, após internamento num hospital. E o assassino tinha nome: consumo de drogas, cocaína.

Dados divulgados pela União Europeia em Novembro, no sítio www.dw-world.de/dw/, indicam que a UE tem um milhão de consumidores de cocaína a mais do que em 2006.

«O uso ilegal de cocaína cresce dramaticamente na União Europeia. No espaço de um ano, o número de consumidores aumentou em um milhão, perfazendo actualmente 4,5 milhões de pessoas. No dia 22/11 o Director do Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência (Oedt), Wolfgang Götz, apresentou em Bruxelas seu relatório anual relativo a 2007. Enquanto o consumo da cannabis e da heroína caíram, a cocaína torna-se cada vez mais popular e o número de suas vítimas fatais permanece elevado. "No tocante à cocaína, o quadro é assustador", comentou Götz. Por outro lado, relativizou: o aparente aumento drástico também se deve ao facto de os dados conhecidos até então serem incompletos, resultando numa avaliação demasiado optimista», lê-se.

Segundo as nossas fontes, a cocaína é um produto extraído da planta “Erythroxylon coca”, ou, como é popularmente conhecida, “coca” ou “epadu”.

Sendo uma planta tipicamente sul-americana, é nativa dos Andes, onde mascar suas folhas, “coquear”, é um hábito tradicional que remota vários séculos. Sua principal função é evitar a sede, a fome e o frio. Podemos encontrar em algumas sociedades Andinas, um valor cultural e mitológico ligado à coca. Em certas sociedades, por exemplo, é aplicada a folha ao recém-nascido para secagem do cordão umbilical que depois é enterrado com as folhas, representando um talismã para o resto da vida do indivíduo. Em certas cerimónias fúnebres é usada, também, mediante certos rituais, como forma de apaziguar e tranquilizar os espíritos.

O papel sociocultural da coca é importante em alguns países andinos. Dois exemplos são Peru e Bolívia, onde é consumida também sob forma de chá, com propriedades medicinais que auxiliam principalmente problemas digestivos. Sua importância é tal que, neste primeiro país, existe até um órgão do governo encarregado de controlar a qualidade das folhas vendidas no comércio, o “Instituto Peruano da Coca”. Se em alguns países andinos a coca é um bem sociocultural, histórica e tradicionalmente importante, em outros países, como no Brasil, é vista como um mal, “algo a ser combatido e exterminado de qualquer maneira”. A lei destes países procura taxar o seu uso como ilícito e a sociedade, em sua maioria, procura estigmatizar seus usuários como “desviantes” ou “marginais”. O uso comum nestes casos é sob forma de sal – o cloridrato de cocaína. É consumida via nasal, ou “cheirada”.

Por ser uma droga cara, o seu uso é dificultado a pessoas de baixa renda. Se o “pó” como é popularmente conhecido o sal cloridrato de cocaína, é muito caro, favorecendo o seu uso pelas camadas mais altas da sociedade, o uso da coca tornou-se mais acessível à população de baixa renda com o advento do crack. No crack a substância usada é a pasta básica de coca (freebasing, em inglês). Mas não é só cheirando o pó ou fumando o crack que se consome a cocaína, pode-se também injecta-la, depois de diluída em água, na corrente sanguínea.

Efeitos físicos e psíquicos

Provoca sensação de euforia e bem estar, ideia de grandiosidade, irritabilidade e aumento de atenção e estímulos externos. Com o aumento da dose: reacções de pânico, sensação de estar sendo perseguido, as vezes alucinações auditivas e tácteis (escutar vozes, sensação de bichos a andar pelo corpo). O quadro completo é chamado de “psicose cocaína”. Intoxicação aguda: em intoxicação com doses mais altas, quadro de síndrome cerebral, orgânica (SCO), caracterizado por confusão e desorientação, podendo resultar em lesão cerebral.

Efeitos físicos: aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca, podendo provocar enfarto e arritmias que causam morte súbita. Menciona-se ocorrências de convulsões generalizadas e ao aumento de temperatura capas de induzir convulsões. Com a aplicação endovenosa, corre-se o risco de contrair-se os vírus de hepatite e da Sida.

José Chissende (josesende2005@yahoo.com.br)

Línguas: quantas existem no mundo?

É comum perguntarmo-nos quantas línguas existem no mundo. Mas a questão não encontra fácil resposta, porquanto os estudiosos do assunto não chegaram a um consenso.

Mas, segundo a especialista Colete Grinevald, professora de linguística da Universidade Lyon II, na França -- convidada da Unesco para traçar um panorama dos idiomas falados no mundo -- existem seis mil línguas faladas hoje no Planeta Terra. Todavia, somente metade delas resistirá até o ano 2100. Nas Américas e na Austrália, 90% das línguas vão desaparecer até o fim deste século.

Vê-se, então, que as línguas, assim como as espécies animais e vegetais, vivem em perigo no planeta. A vida de muitas delas está por um fio, pois tendem a desaparecer à medida que não são mais faladas. Língua viva é língua falada, de contrário, morre. Actualmente 97% das pessoas do mundo falam apenas 240 dos seis mil idiomas existentes. Essa estatística aponta o fim para muitos idiomas no mundo. É uma realidade inexorável.

Entre as línguas, há as mais faladas que outras. A primeira é o mandarim, na China, falado por 1 bilhão de pessoas. A segunda, o inglês, falado por 510 milhões de pessoas. Em terceiro lugar vem o hindi, na Índia, falado por 500 milhões de pessoas. Em quarto lugar está o espanhol, falado por 400 milhões de pessoas. O russo aparece em quinto lugar, falado por 280 milhões de pessoas. Em sexto está o árabe, falado por 250 milhões de pessoas. Em sétimo o Bengali, na índia, falado por 210 milhões de pessoas. O português, falado por 200 milhões de pessoas, aparece em oitavo lugar. Em nono lugar está o indonésio, idioma falado por 180 milhões de pessoas. E em décimo lugar o francês, uma língua falada por 130 milhões de pessoas.

Indaga-se, então, se estas línguas tão faladas correm risco de desaparecimento? Segundo a pesquisadora francesa Colete Grinevald, nenhuma delas está fadada à extinção. São línguas com rica literatura e amplo número de falantes. A cadeia delas decorrente soma milhões e milhões de falantes, no curso de gerações. Assim, nenhuma das 10 línguas mais faladas, aqui apontadas, corre algum risco. Elas tendem a multiplicar o número de falantes e por isso estão em constante expansão.

De outra parte, assim como há línguas vivas e bem vivas, há aquelas que estão ameaçadas de extinção. É o caso das línguas indígenas amazónicas, que sofrem devastação na sua diversidade linguística. E esse facto é um triste fim para uma realidade sobre a região mais rica do planeta. Falam em revitalizar línguas, mas não há pessoa de bom senso que acredite que alguém possa reinventar uma língua que desapareceu. Aqui na Amazónia há grupos indígenas que tentam reviver uma língua que já todo mundo deixou de falar. A única coisa que eles podem fazer é lista de palavras e mandar os meninos aprenderem. Lista de vocabulário não é a língua. Ou seja, o que se perdeu, definitivamente, são as regras abstractas que estão na mente dos falantes. Isso se perdeu e não há como recuperar, ainda mais por meio de listas de palavras ou algo semelhante. Uma língua que desaparece para sempre, não há como ressuscitá-la. Se alguém sabe como fazer isso, então faça e estará operando um verdadeiro milagre.

Nesse cenário, então, o que poderia ser feito em prol das línguas amazónicas seria a catalogação do imenso e rico acervo linguístico, depositando-o num centro de pesquisa e estudos etnolinguísticos, no intuito de legar, às futuras gerações, fonte preciosa à compreensão dessas culturas. Estudando uma língua é possível compreender toda a vivência de um povo, bem como perceber que não somente a guerra, genocídios, mas também os desastres naturais, a difusão de línguas dominantes, o pouquíssimo número de falantes, são factores que levam à extinção de um idioma. Isso porque, de certa forma, o processo de desaparecimento de uma língua é semelhante àquele de extinção de uma espécie animal.

Para concluir a reflexão, diz-se, com base em dados históricos, que mais da metade de todas as línguas existentes no mundo estão condenadas à extinção, até o final deste século. Os linguistas crêem que entre 3.400 e 6.120 línguas podem desaparecer antes de 2100. Esse dado supera a conhecida estatística de uma língua extinta a cada duas semanas. E uma das razões para o desaparecimento de muitas delas está no facto de serem faladas por comunidades pequenas. E, de acordo com a Unesco, para passar de uma geração a outra, uma língua precisa ser falada por pelo menos 100 mil nativos.

Dicas de gramática
1. A temperatura chegou a zero graus ou a zero grau? R: Zero é sempre singular: zero grau, zero-quilômetro, zero hora.

2. Fazem cinco anos ou faz cinco anos? R: Fazer, quando exprime tempo, é impessoal. Então, diga: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15 dias.

3. Há dez anos atrás ou há dez anos? R: Há e atrás indicam passado na frase. Então, diga: Há dez anos ou Dez anos atrás.
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Luisa Galvão Lessa - é Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Membro da Academia Brasileira de Filologia: Membro da Academia Acreana de Letras.

Lar de idosos em Benguela "doa" lição de preservação cultural

Uma lição de preservação de valores culturais através da oralidade, do canto, batuque e dança foi o que a nossa equipa testemunhou no passado dia 22/12, no Lar de idosos, ao Vale do Cavaco, em Benguela, ao cobrir a visita e oferta de bens de primeira necessidade pelo Grupo Teatral Juvenil Esplendor Magnético da Zona-A, Benguela. Os instrumentos musicais acústicos da Terra, à disposição no local, que não nos deixem mentir.

Segundo a Responsável do Lar de idosos, Cecília Muhona, o Beiral de Benguela existe desde 1972 e alberga 85 utentes, mais cinco do que a sua capacidade. Muitos dos idosos são também portadores de deficiência. São velhos de diferentes origens, mas com algo em comum: nenhum foi ao Beiral por vontade própria. «Uns através das igrejas, vizinhos, administrações de zonas e, outros, pelos familiares, que deixaram os seus papás nos nossos portões e nós acolhemos», revelou a Responsável.

Se um velho é biblioteca viva, podemos considerar a nossa como uma sociedade que queima os seus livros, atendendo aos imensos relatos, tristes geralmente, sobre a exclusão familiar de que muitos são vítimas na terceira idade. Os lares ou centros, às vezes, não passam de locais para confinar gente julgada “inútil” pelos próprios descendentes.

Mas o que a nossa equipa de repórteres, constituída por Florentino Calei e Raimundo Bambi, constatou ao cobrir a visita do Grupo Esplendor Magnético ao Beiral do Cavaco contraria a tendência viciosa que publicita centros de idosos como “vaso” para depositar caridade logística, onde os residentes são passivos receptores.
Não ignorando as necessidades básicas com vestuário e alimentação, sugerimos sim um outro tipo de abordagem, já que os mais velhos têm também muito, mas muito mesmo a dar. Com a inserção das línguas nacionais no sistema de ensino, por exemplo, que tal estabelecer programas de intercâmbio extra-escolar com alunos? Porque quem pensa que um beiral é local monótono e que velhos afastados do ambiente familiar são inúteis, engana-se redondamente.

Em termos de políticas de estado, o referido Centro é tutelado pela Direcção Provincial da Família, Assistência Social e Antigos Combatentes (Fasac).

O Esplendor Magnético surgiu há sete anos, sob influência de um Padre da Paróquia de Santo Estêvão, ao bairro da Lixeira, cidade de Benguela, que via no teatro uma forma de educação juvenil. Vencedor do Prémio Provincial de Teatro em 2000, o Grupo é pela solidariedade e tem 25 jovens, alguns dos quais com interesse pela criação musical.

Sociedade Benguelense exige continuidade do Boletim "A Voz do Olho" e do programa radiofónico “Viver para Vencer”

Se dependesse apenas dos cidadãos, alguns dos quais profissionais de informação da praça benguelense, o Boletim “A Voz do Olho” e o programa radiofónico “Viver para Vencer” continuariam a ser servidos, tal é a relevância que representam para o fortalecimento da cidadania.

Os telefonemas, as conversas e os e-mails são disso evidência. Mas, como vem sendo anunciado, o fim da fase de implementação (período 2006-2007) dos projectos que os suportavam retira as condições técnicas e económicas para a sua manutenção. A pausa é típica do Ciclo do Projecto.

Vindo da sociedade tal reconhecimento, aquela para qual as iniciativas foram concebidas, a AJS sente-se recompensada pelo esforço de toda a equipa, num entrosamento com a colaboração de pessoas singulares e colectivas. Tudo tem sido feito para a reposição em breve do Boletim “A Voz do Olho” e do programa radiofónico “Viver para Vencer”.

Projecto Viver Contra a Sida-3, Cidadania e Saúde Preventiva
Financiado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), para o período de Setembro/06 a Outubro 2007, chegou a ser prorrogado para mais três meses, em função dos indicadores de progresso. É a terceira fase da iniciativa com o mesmo nome, implementada pela AJS, desde 2001, e a sua combinação com experiências recentes na vertente de comunicação para a cidadania. De forma directa, a parceria dos ministérios da Saúde, da Educação e da Comunicação Social foi determinante.

Orçado em cerca de USD 79 mil, suportava 500 cópias do Boletim informativo, uma hora de antena do programa radiofónico semanal, bem como acções de sensibilização (palestras, concursos de cultura geral e disseminação de material de propaganda) em seis escolas e arredores, nomeadamente, Rei Catiavala, Bom Samaritano e Cdte Dangereux, ao bairro do São João, Rei Mandume ao bairro da Santa-Cruz, Povo Unido e Simione Mukune, Catumbela. Almejava abordar cerca de 4 mil e 500 jovens, entre 11-35 anos, tendo atingindo mais de 6 mil e 500.

Projecto “Palmas da Paz-2”, Cidadania e Prevenção de Conflitos
Foi o ressurgir do projecto com o mesmo nome, implementado pela AJS, de Dezembro/03 a Maio/04, na altura sob financiamento da Usaid (Agência dos Estados unidos para o Desenvolvimento) através do Crea.

Na versão actual, “Palmas da Paz” foi enquadrado no programa da Embaixada Americana para pequenos projectos, num orçamento de USD 17 mil. Para além de custear 30 minutos do programa de rádio “Viver para Vencer” (passando para hora e meia), garantiu 500 cópias do Boletim (perfazendo mil exemplares), bem como algum material e equipamento de escritório.

Note-se que embora não possa ser com o mesmo impacto, a AJS continuará a implementar acções pontuais nas linhas dos projectos ora terminados, como aliás é apanágio.

A nossa equipa

Edmundo Francisco: Coordenador Executivo da AJS, supervisor geral (e locutor)
Salomão Gando: Coordenador do Projecto
Gociante Patissa: Mentor das linhas de Rádio, Boletim, Weblog (e locutor)
Luzia José: Oficial de Terreno
César Menha: Gestor Financeiro
Júlio Lofa: Produtor geral (e locutor)
Fernando Gabriel: Motorista
Felix Rodrigues, Maria Marcial, Amélia Celma e Florentino Calei: activistas, actores de teatro radiofónico e repórteres
Colaboradores: Mário Castro "Ny Babaley", Bungo Dumbo, Isaac Fuca "Kito", Lázaro Dalas, José Chissende, Mariana Teixeira e Raimundo Bambi.

Dê suas mãos às comunidades!

Há sensivelmente trinta quilômetros da cidade ferro-portuária do Lobito, na direcção Norte, entre montanhas, situa-se a localidade da Ha...